"Booktubers": todo poder aos leitores



Entre 2008 e 2009 vimos surgir uma série de blogues literários, entre eles, o meu, Listas Literárias. O surgimento e a explosão destes canais de comunicação não demorou para atrair a atenção de editores e escritores que viram nos blogueiros uma nova forma de obterem retorno e divulgação para suas publicações. Não raro, opiniões como a do escritor Eduardo Spohr, do sucesso A Batalha do Apocalipse de que "a internet e os blogs revolucionaram o mercado editorial" se espalharam por aí. De fato, isso é algo que não podemos negar, o advento dos blogues literários fez surgir novas relações no mercado editorial, e cerca de um ano depois desse primeiro "boom" editoras já lançavam parcerias sistemáticas com esses novos canais, que de certa forma engoliram suplementos literários dos jornais, espaço restrito e limitado para discutir literatura. Contudo, se houve a "revolução dos blogues literários", 2015 pode representar perfeitamente uma nova revolução, e, não impossível, caso os blogues não se dinamizem, poderão ser engolidos pelo estrondoso sucesso dos canais de vídeo. Preocupar-se com o fim dos blogues literários nem mesmo é um exagero se observamos, por exemplo, Pam Gonçalves, que participou da "primeira revolução" com seu blog Garota It, mas hoje dedica-se apenas ao canal de vídeos. Mas não é sobre o possível fim dos blogues esse texto, mas sim sobre essa nova revolução, a "revolução dos booktubers"  (Em 2012 eu já destacava alguns canais) que acima de tudo repetem o princípio dos blogues, o empoderamento da opinião do leitor.

Nos estudos literários o leitor levou algum tempo a ser considerado, algo corrigido, ainda que com suas falhas com a estética da recepção. No entanto, não pretendo aprofundar esse debate por enquanto; a ideia é apenas apresentar que houve certo atraso em se considerar o leitor nesse sistema complexo que é o mercado editorial. Todavia, o advento da internet, das redes sociais, e das diferentes plataformas possibilitou que tais leitores se conectassem, criassem grupos, clubes. E isso empurrou ainda mais a crítica literária para o divã, já que encastelada nos muros acadêmicos, não percebeu que para além deles a literatura prosseguia. Da mesma forma aconteceu com os jornais. Com pautas de pouco espaço e suplementos semanais é evidente que nenhum jornal conseguiria dar conta de tudo que ocorre no meio literário. O resultado disso é que, na minha opinião, tínhamos pouca informação para "consumidores ávidos" de informação. Foi aí que entraram os blogues com seu dinamismo e pluralidade de pauta. As informações que os leitores não encontravam nos jornais e nas academias passaram a ser encontradas e compartilhadas em blogues e redes sociais.

Contudo, deve-se observar que os blogues não nasceram com essa seriedade acadêmica, o que obviamente, gerou no início desconfiança e crítica, porque esses canais precisaram partir de uma estaca zero e aprender a debater literatura. Com isso, é óbvio, encontraremos bons e maus trabalhos espalhados por aí, mas assim como os leitores de livros, os leitores de blogues também efetuam a seleção do que lhes serve ou não. De toda forma, vale frisar também que poucos blogues nasceram com o intuito de tornarem-se críticos literários. Muitos sequer são administrados por profissionais ligados à literatura. São leitores, acima de tudo.

É o mesmo que ocorre com os "booktubers". Poucos deles apresentam-se como críticos, mas são sim, leitores. Alguns mais críticos que outros. Alguns mais ferramentados que outros. Ainda assim, o que chama atenção é que tais opiniões, com embasamento crítico, ou não, são visualizados por milhares de leitores a cada novo vídeo. Seus "gostares" e "não-gostares" podem elevar uma obra ao sucesso, ou mantê-la anônima. Não são críticos, mas são leitores cuja crítica possui forte impacto num mercado concorrido e restrito.

Portanto, a despeito de qualquer nariz virado para essa nova realidade, ou então, ostentação de autoridade crítica por parte de "vlogueiros", o que devemos levar em conta é que este é um novo cenário ainda em efervescência. Não podemos dizer que trata-se de uma nova crítica, ou algo semelhante, mas sim a ampliação da autonomia e do poder dos leitores, pois hoje, para além das listas de mais vendidos, suplementos literários (cada vez mais raros), é na cumplicidade e na semelhança de gostos que os leitores encontram referências e informações sobre assuntos literários que são compartilhados. Seja em blogues, ou vlogs, percebemos cada vez mais a concentração de poder nos leitores, que hoje ditam os rumos do mercado editorial. Todavia, se isto será benéfico e positivo, é assunto para outro texto.

Veja abaixo alguns canais interessantes para acompanhar.