Por que precisamos de um outro ponto de vista da mesma história?



Não sei se vocês já perceberam, mas de uns tempo para cá virou moda (ou febre) que autores lancem "novas" obras a partir de uma nova perspectiva de uma mesma história. Isso é um "fenômeno" especialmente americano, terra do Dólar e das diferentes formas de manter vivo o capitalismo, mas ei, vou parar por aqui para não me perder na questão central deste texto: há mesmo necessidade de entulhar livrarias e leitores com pontos de vista diferentes de uma mesma história?

O que me levou a escrever sobre o tema é o recente lançamento de Outro Dia, de David Levithan, obra em que a sinopse revela ser a apresentação do ponto de vista de Rhiannon dando sequência ao livro Todo Dia. Acontece que esse livro em particular reúne elementos interessantíssimos, especialmente sobre a forma delicada mas efetiva com que consegue captar e debater as questões da sexualidade e da constituição de nossas personalidades humanas. Na minha opinião, um livro mais que entretenimento e que sem apresentar soluções fáceis poderá ser prejudicado pela sequência, pois há livros que se bastam por si mesmos.

No entanto, ou por intenção planejada ou por pressão do mercado, a obra ganha sequência assim como muitas outras, como um outro exemplo mais escrachado que foi o lançamento de Grey em que a autora mesclou com alguma novidade  um texto típico ctrl+c ctrl+v vendendo-o como uma nova perspectiva dos seus tons de cinza. Contudo, Levithan e E. L. James são apenas alguns dos muitos outros autores americanos que usam desta prática comercial, como a série Belo Desastre, de Jamie McGuire, o que é bom para eles, como autores comerciais, filhos de um capitalismo em que franquias de sucesso raspam qualquer última gota de possibilidades financeiras, mesmo que pondo a qualidade da obra cultural em risco.

Mas antes que me apedrejem, obviamente é compreensível esta tática por parte de editoras e autoras como E. L. James. No caso de autores sem qualquer preocupação literária essa é uma atitude prática à pessoas de negócios, mas no caso de Levithan, cuja proposta soa com mais seriedade, é de deixar leitores com um pé atrás quanto a seu acerto em Todo Dia. 

Para encerrar, creio estar claro que como jogada comercial e para autores meramente financistas a prática de exaurir uma história pode não ser louvável, mas será rentável. Todavia é de se esperar que essa tática não se espalhe por obras que possam ter um valor literário maior, porque, afinal, imagine o quão frustrante seria ler Dom Casmurro sob o ponto de vista de Capitu, todo o segredo e mistério perderia-se em moedas de réis.